Está é uma série de televisão americana baseada no livro Thirteen Reasons Why (2007), de Jay Asher, e adaptado por Brian Yorkey para a Netflix. Originalmente planejada como um filme que seria lançado pela Universal Pictures, com Selena Gomez no papel principal, a adaptação foi transformada em uma série de televisão pela Netflix no final de 2015. Selena Gomez serviu como produtora executiva.
13 Reasons Why se baseia na história de uma jovem chamada Hannah Baker que sofreu diversos acontecimentos e acusações que acabou a levando ao suicídio, duas semanas depois da tragédia seu colega de turma Clay Jensen recebeu uma caixa de sapatos onde havia sete fitas de dois lados gravadas por ela como se fosse um diário, nos treze áudios ela sita os treze motivos de sua ação detalhadamente. As regras eram claras: cada pessoa que recebeu a caixa é um dos motivos pelos quais ela se matou, e depois q cada pessoa terminasse de escutar as fitas, deveria seguir para a próxima pessoa. Se alguém quebrasse a corrente outro conjunto das fitas seria vazado.
Somos menos humanitários quanto gostamos de acreditar. A série "13 Reasons Why" nos fisga, pois inconscientemente sabemos que a nossa negligência, apatia cotidiana e egocentrismo social está bem representada em cada um dos personagens.Paradoxalmente, somos a Hannah e ao mesmo tempo os motivos que a levaram à desistir. E o que todos tinham em comum para não enxergar a morte iminente de Hannah? Todos estavam presos em suas próprias histórias, justificados pelo senso de autoimportância excessiva e onde se cultivava pouco o cuidado com as pessoas que os cercavam. "Ninguém se importou o suficiente". Nós também não.
Hannah Baker a protagonista da serie, sofreu inúmeros casos de rejeição, julgamentos, agressão física (Jessica), verbais (Zack e outros), sociais (Tyler e Ryan) e sexuais (Justin e Bryce). Autora das treze fitas em que fala detalhadamente os motivos que a levou ao seu suicídio. Foi realmente suicídio? Ela já estava morta por dentro, os treze motivos a matou lentamente de acordo com a personagem. Seus pais tinham uma farmácia, local em que ela pegou as laminas para cortar os próprios pulsos e sangrar ate morrer, Apesar de ter um bom relacionamento com os pais, Hannah não se sentia à vontade em conversar com eles sobre aquilo que a atormentava. Talvez por vergonha ou por medo do choque A partir do meio da série, quando sua dor, que não compartilhava com ninguém, vai se acumulando, torna-se frequente que Hannah diga que se sente invisível e que só causa problemas aos outros. Estes são indícios de que a pessoa pode estar pensando em acabar com sua vida, avaliando se esta vale à pena. Mais do que pelo bullying que sofria, a angústia da personagem vai crescendo quanto mais ela sentia que ninguém a enxergava de verdade, não a conhecia e não estava disposto a ouvi-la. Seu maior problema talvez não fosse a perseguição dos colegas, mas a percepção de que estava sozinha em sua dor.
Bonito, charmoso, divertido e atormentado. Nunca conseguimos perceber os dramas de uma pessoa carismática que aparenta viver bem. Sua mãe era drogada e submissa aos namorados agressivos que arrumava, inclusive Justin já apanhou para um deles. Cresceu com um jovem soberbo e abusivo que acabou se tornando “amigo" chamado Bryce. Em um período perturbador para Justin a casa de Bryce se tornou um tipo de refúgio, o mesmo ajudava Foley financeiramente. Hannah se apaixonou por ele no começo da serie, mas ocorreram fatos que o tornou um dos porquês. Episódios depois ele presencia o estupro de sua namorada jessica ,mas mesmo tentando impedir falhou, Bryce o jogou para fora do quarto. Bêbado e sentindo que não poderia confrontar Bryce, Justin chorou por sua falta de controle sobre o que estava acontecendo com sua namorada.
Acostumada a obter aplausos e ser o centro da ação, Jessica se apoiou na carência social de Hannah até que pudesse alçar sua popularidade na escola. Ela age num looping de culpa e afastamento, quando percebe que suas ações machucam Hannah. Muitas pessoas vivem esses dilemas com a sua autoimagem, querem ao mesmo tempo sustentar a ideia de que são generosas ao mesmo tempo que cultivam comportamentos egoístas. Ao querer se afastar sente culpa, mas para se justificar acusa Hannah de atacá-la e assim criar uma rivalidade imaginária para poder sair da relação com boas explicações para si mesma. A rigidez do pai militar abre espaço para uma personalidade lábil, que precisa manter a aparência de uma personalidade agradável para a família e outra permissiva e auto-destrutiva entre os amigos. Como ela não se sentia confortável com suas próprias convicções, e avaliações da vida diante de um estupro sofrido considerou seriamente que seu instinto estivesse errado. Depois de anos de auto-crítica destrutiva não deu ouvidos para a sua voz interna alertando que algo estava muito errado. O alcoolismo surgiu como um apaziguador de angústia (como fracassadamente se propõe a ser) até que ela se defrontasse com o pior das verdades dolorosas.
Se olhado superficialmente o pai policial parece ser atento com o filho, mas as falas são sempre reforçadoras de um estereótipo de filho machinho conquistador, coisa que Alex abominava. Para ser aceito no grupo dos populares pagou um preço mais alto do que previu, de ser negligente com a amiga época de vacas magras, Hannah. No entanto, ele nunca perdeu o cinismo sobre o script que tentavam implantar nele, do garoto bem sucedido. Num momento decisivo da série ele foi o único capaz de elencar todos os podres dos amigos, expôs as feridas de todos os acusados que tentavam tramar contra Hannah, e referiu-se a si mesmo como um "perdedor patético e fraco". Sua coerência brutal mal conduzida pelo desejo de pertencimento infelizmente deixou ele carregado de remorso e ações destrutivas. Nem todos notam, mas ele já estava apresentando comportamentos de risco em aparentes acidentes, ao "cair" na piscina, dirigir em alta velocidade, se meter numa briga, ou seja, ele dava sinais do derradeiro e fatal suicídio,por final chegou perto de conseguir realizar o seu desejo.
Os inadequados sempre buscam uma posição social de utilidade para poderem se encaixar,Tyler encontrou na fotografia um modo de estar em todos os lugares garantindo sua invisibilidade. O stalker é sempre um exibicionista que se projeta no objeto de adoração para sorver passivamente o status do ídolo. Com sua inabilidade social imaginou que invandindo a privacidade de seu amor platônico, Hannah, poderia ter alguma chance com ela. É a mesma relação bajuladora de idolatria em que o fã se vê dono do ídolo por estar há muito tempo amando-o à distância. Quando o objeto de exaltação desaponta o escravo, ele se sente traído e legitimado a puxar o tapete vermelho que antigamente abria para o seu senhor. O ressentimento de Tyler foi criado pela própria incapacidade em se aproximar de quem gostava.
Ser correto, diplomático e admirável tem um preço alto para Courtney que encarnou tanto a imagem da perfeição que não poderia assumir sua homossexualidade em público. Mesmo filha de pais homossexuais seu preconceito fica camuflado em "medo de criar teorias da conspiração sobre os pais adotivos gays influenciarem sua sexualidade". Ela leva sua necessidade de proteger a reputação intocável ao extremo, corta radicalmente Hannah de sua convivência e tenta descredibiliza-la para não ser associada a si.
Ele encarna bem o comportamento usual do menino que é rejeitado após uma abordagem invasiva e arrogante e culpa quem o rejeitou. Para não se sentir inferiorizado, Marcus deprecia Hannah, até que ele não se sinta tolo por tê-la desejado "achei que você era fácil". Como tem uma imagem interna de garoto perfeito não consegue harmonizar suas ações e sua reputação então prefere seguir tramando contra Hannah até que ele prove para si que não fez nenhum mal à ela.
Se uma pessoa é bondosa no seu círculo familiar isso não a impede que possa ser, como Alex descreveu "um idiota privilegiado que faz coisas cruéis e estúpidas mesmo que tenha um coração decente". Não raramente as pessoas boas costumam fazer coisas detestáveis por se sentirem blindadas moralmente e previamente justificadas em nome de seus bons modos. Zack entra no tipo dos que destruíram a alegria de Hannah, porque não teve timming, sensibilidade, paciência e tato para notar que ela não era uma garota inacessível. Por ter uma auto-imagem de bom menino sensível travestido de bad boy, ele foi afobado, e não notou que ela estava machucada. Diante da mínima contrariedade ele foi reativo e seguiu apoiando negligentemente situações abusivas contra ela. Vale notar as vezes que fingiu não ver Justin pedindo ajuda enquanto se dedicava à familia. Parece que a mãe de Zach, de tom altivo e rígido moldou bem o seu garoto para ignorar as necessidades dos outros se elas afetassem os interesses próprios.
Apesar de Ryan despertar menos interesse na trama, Hannah o qualifica como um dos que roubaram sua alegria. Isso não é uma coisa pequena quando se vive num mar de presunção e competitividade. Hannah não conseguiu ver através da aparente bondade e incentivo poético a arrogância estética de Ryan. Ele também foi abusivo quando negligenciou o pedido dela de que seguisse anônima enquanto experimentava seus primeiros mergulhos literários. Seja por inveja ou senso de inferioridade (por se sentir alvo de preconceito sexual) ele desferiu um ataque que chegou em má hora. Deixar de respeitar a privacidade intelectual dela também é uma forma de abuso.
Existem os que pecam por fazer de mais e outros por fazer de menos. Sheri, mesmo que justificada pelo medo deixou o circo pegar fogo e contribuiu para a dose de desilusão de Hannah sobre a bondade humana. É importante pensar como o medo por si mesmo conduziu a maior parte dos personagens. Nós também nos ocultamos em preocupação e receio para invadir demais ou nos envolvermos de menos nas questões dos outros. Na série, a covardia de Sheri custou uma vida e um idoso sequelado, ao qual ela tentou compensar, mas sem efetivamente assumir que foi a desencadeadora de eventos trágicos. Num efeito em cadeia é sempre o pequeno detalhe que ignoramos que tira na nossa vida do trilho interior.
Clay é o típico bom menino, ingênuo, até alheio aos outros e preso numa timidez patológica associado com um quadro de Síndrome do Pânico (motivo pelo qual ele não ouviu todos os áudios numa tacada só). Esse despreparo social, vindo de uma uma mãe superprotetora o leva a ter vários comportamentos negligentes e até descuidados com Hannah, por pura inabilidade de percepção social. Mas apesar de sua comunicação ruim e seus rompantes de tímido-orgulhoso ele vai se revelando em cada episódio a pessoa combativa e corajosa que se arrepende de não ter agido antes É curioso notar como a sensibilidade social é valiosa nos relacionamentos. Os garotos abusivos não sabem interpretar o não das garotas como um NÃO. Já Clay, mesmo no contexto de consentimento sexual entre eles, não sabe perceber que o não de Hannah é um "não seja reativo, tome fôlego comigo que meu surto sobre você vai passar". Uma garota tem todo o direito de interromper um momento sexual se está se sentindo bloqueada, e o excesso de zelo foi precioso em respeitá-la e não cruzar uma linha delicada. Mas ele poderia ser menos afobado, permanecer por perto, respirar fundo. Infelizmente esse episódio disparou em ambos um distanciamento fatal. É importante notar que o comportamento bondoso de Clay não é aleatório, diferente de outros pais na série, os pais dele são zelosos e atentos à ele, abrem espaço para conversas, tentam não ser invasivos, mesmo quando são, até nos momentos mais tensos e indecifráveis do jovem. No mais, ele soube crescer nos desafios e transformar sua rigidez moral em resiliência para enfrentar os abusos do grupo que molestou sua querida Hannah.
A combinação de permissividade parental, prosperidade deseducada (afinal nem toda riqueza é abusiva), cultura de winner-loser, machismo e uma personalidade predatória transformam Bryce no tipo de pessoa irresistível (pelo prestígio e proteção) e temerária de se ter por perto. Sua frieza e indiferença pelos outros precisa ser camuflada em simpatia para obter serviçais-amigos-interesseiros, por isso ele faz bem o jogo do bate e assopra com todos os amigos. O comportamento típico do macho alpha de punir e brincar com os colegas (para submetê-los aos seus desmandos) vai corroendo a autoconfiança de todos que o cercam. O pacto de protegê-lo vem dessa mentalidade de famiglia italiana de gângster, morrer até o fim pelo líder, mesmo que ele seja o primeiro a sacrificar os outros em benefício próprio. Como ele próprio abdica de subjetividade e questionamentos morais, toma tudo como sua propriedade pessoal e desenvolve o pensamento mágico próprio dos abusadores, o de projetar os seus desejos nos outros para depois alegar que houve consentimento de suas vítimas. Ele misturado agressividade com um jogo erótico que só existe na cabeça dele. Em sua mente desfigurada não há estupro, mas uma percepção megalomaníaco de que ele é o centro de desejo do mundo.
Porter soa como um burocrata da ajuda, parece ajudar, mas até o limite de seus interesses profissionais, quer salvaguardar seu emprego e a instituição que trabalha. Está pouco afeito às ambiguidades juvenis e espera sempre respostas prontas ao invés de investigar cuidadosamente os segredos que rondam os jovens da escola. Como ele pôde ser ingênuo ao achar que diante de questões tão delicadas os jovens sairiam abrindo o jogo para um estranho? Se uma questão não está clara nem para eles como podem se abrir? Para alguém nessa posição é preciso menos formalidade, distanciamento e ensimesmamento, e mais proximidade, interesse genuíno e desprendimento protocolar-institucional. Porter falhou em todos os quesitos, representanto bem a posição supostamente isenta das instituições escolares.
Tony é um oásis de sabedoria e sensibilidade no meio de tanta incapacidade em perceber as pessoas de verdade. Curiosamente a sua educação latina e até austera criam uma personalidade forte e paradoxamente sensível tanto quanto leal. Ele é aquele irmão mais velho que todo mundo gostaria de ter em dias de crise. Sua sabedoria contra-intuitiva (unhelpful Yoda) resolve as coisas com silêncio, caminhadas, comida, abraços, elogios, exploração na natureza, falas cortantes e tudo isso sem perder o timming de confrontações dolorosas e olhar amistoso. É possível especular que sua própria homossexualidade o tenha exposto à questões de vergonha e medo desde cedo e isso o tenha sensibilizado para assuntos mais sérios do que os jovens costumam lidar. Essa maturidade precoce que não é impecável (e nem precisaria ser) nos aponta para o tipo de cuidado primoroso que a série escancara como contraponto de todo o egoísmo dos demais personagens.